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A Lapa perde suas cores

janeiro 10, 2013

Artista e obra, Jorge Selarón.

Esta quinta-feira, 10, tornou-se um dia de luto para um dos bairros mais alegres do Rio de Janeiro. Nesta manhã, o artista plástico Jorge Selarón foi encontrado morto na escadaria que leva seu nome – um dos mais famosos pontos turísticos da Lapa. O Lapa em Foco não poderia deixar de prestar sua homenagem a esse artista chileno, que se tornou famoso graças a seu trabalho no bairro carioca.

De acordo com as informações divulgadas no site do jornal “O Globo”, o corpo de Selarón foi encontrado na escadaria com marcas de queimaduras, ao lado de uma lata de solventes de tinta. Segundo entrevistas de pessoas próximas ao pintor ao jornal, Selarón estava em depressão por causa das ameaças que vinha recebendo de um ex-colaborador de seu ateliê , desde novembro de 2012. A polícia ainda está investigando o caso, trabalhando com as possibilidades de suicídio, homicídio ou crime passional.

A brutalidade da morte chocou tanto amigos quanto fãs e moradores da cidade, que usaram as redes sociais para expressarem a tristeza de ver o fim do trabalho de um dos maiores contribuintes da alma e alegria carioca. Jorge Selarón começou a trabalhar na escadaria no início da década de 90, quando se mudou definitivamente para a Lapa. Em 2005 a Prefeitura do Rio tombou a escadaria como patrimônio da cidade, eternizando a obra.

foto de divulgação/Gemerson Dias

No verso de sua foto, vendida junto com suas pinturas, fica eternizada a declaração do artista: “Esse sonho único e maluco só vai terminar no dia de minha morte”. Agora o que resta do chileno de alma carioca é apenas a sua história e sua alegria contada pelos azulejos nos degraus da escadaria do Convento de Santa Teresa.

Fica, aqui, o registro de tristeza e admiração de nós, do Lapa em Foco, aos anos de trabalho do chileno mais carioca Jorge Selarón.

por Carolina Ruiz e Milena Veloso

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Sempre tem quem goste, e quem não goste

novembro 29, 2007

Conhecida como um dos lugares mais democráticos do Rio de Janeiro, a Lapa sempre pareceu agradar a todos. Não é incomum ouvir pessoas comentando que é possível encontrar diversão para todo o tipo de gente, e que esse é o melhor fator da Lapa. Mas, na prática, existe muita gente que não gosta de lá.

“Acho a Lapa um lugar meio esquisito. Sei lá! Acho que lá é meio desorganizado, sujo, sombrio. Tenho um certo medo, já fiquei sabendo de vários assaltos por lá”, diz Fernanda Bello, de 21 anos, estudante de Administração no IBMEC. A violência e a insegurança são os fatores que mais afastam as pessoas da Lapa. A falta de iniciativas governamentais em melhorias só agravam esses problemas, que atualmente são problemas em qualquer lugar da cidade. Fernanda ainda completa: “Gosto de poder sair de carro, estacionar em algum lugar que não me dê medo, como as ruas da Lapa me dão. Não gosto de ter que parar longe e ficar andando à pé. Realmente prefiro não ir lá, me sinto muito insegura”.

Em entrevista ao Lapa em Foco, Daniel Koslinski, um dos donos do Grupo Matriz, que possui várias casas noturnas em Botafogo e na Lapa afirma que até mesmo para os comerciantes do local é difícil atrair clientes quando não se pode garantir a segurança. “A iniciativa do estado por ali é muito tímida e pouco abrangente. Existe esse estigma de crescimento e grandes lucros, mas a coisa na verdade é bem diferente. Muita gente ali investiu tudo, apostou no bairro e tem o direito de lucrar, mas mesmo assim é muito difícil porque o poder público não ajuda. O comércio informal toma as calçadas e não deixa espaço para as pessoas caminharem, vendem bebidas alcoólicas para menores, e destroem o lucro dos comerciantes que geram empregos, pagam impostos e vivem ameaçados por inúmeros órgãos de fiscalização. Os flanelinhas dominam as ruas extorquindo dinheiro debaixo das barbas da PM. Isso afasta um público que não está a fim de enfrentar essa guerra.”, diz ele.

Mas nem todo mundo se sente tão ameaçado, e ainda consideram a Lapa como o que há de melhor para se divertir na noite carioca. “A insegurança é algo que está em toda a cidade, sem exceção. Hoje você pode ser assaltada em qualquer lugar, literalmente! Eu já fui assaltada na Lapa, levaram minha bolsa, com tudo que tinha dentro, dinheiro, documentos, celular. Tudo! Mas cara, eu sei que isso podia ter acontecido em qualquer lugar, não aconteceu só porque eu estava na Lapa. A Lapa tem os melhores shows, os melhores bares, lugares que eu nunca vou deixar de freqüentar”, diz Natália Bittencourt, de 20 anos, estudante de cinema da Estácio de Sá, apoiada por seu namorado, João Melo, 21 anos. “É obvio que seria muito melhor se a gente pudesse se sentir cem por cento seguro, mas isso não é mais uma realidade em lugar nenhum da cidade. Com tudo isso, afirmo e repito, a Lapa é o melhor lugar do Rio de Janeiro!”, brinca ele.

Por Carolina Ruiz

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Lapa, uma boa anfitriã

novembro 29, 2007

Que o Rio de Janeiro é uma cidade extremamente turística, todo mundo já sabe. A novidade atualmente está na opção dos viajantes em onde ficar hospedado na Cidade Maravilhosa. Há algum tempo, nenhum turista pensaria duas vezes antes de escolher pontos badalados da Zona Sul como destino, mas de uns tempos pra cá isso tem mudado. Os hotéis cinco estrelas de Copacabana já não são mais a primeira opção para os viajantes, principalmente para a galera mais jovem. Hotéis menores, mais baratos, e em pontos fora dos centros turísticos vêm se tornando as hospedarias mais procuradas pelos viajantes que querem gastar menos sem deixar de se divertir na cidade.

Os albergues vêm sendo cada vez mais procurados por viajantes mais jovens, principalmente pelos adeptos do mochilão. A Lapa é um local rico em albergues e pequenos hotéis, opções principais desses turistas. Com cerca de 15 hospedarias de todos os tipos (a grande maioria situada em Santa Tereza), o local já virou destino de dezenas de viajantes que estão descobrindo a Lapa como parte do Rio de Janeiro, fugindo da obviedade da Zona Sul. O americano Andrew McKay, de 23 anos está visitando o Rio de Janeiro com outros amigos, e escolheram o Terra Brasilis Hostel, em Santa Tereza como sua hospedagem. “É bem mais barato do que um hotel normal. Meus amigos que já visitaram o Brasil disseram que a Lapa era muito legal, achei que seria legal não ficar em Copacabana, e estou muito feliz com a decisão. Podemos visitar tudo durante o dia, e de noite aqui é o lugar perfeito para sair e se divertir!”, diz ele. O dono do albergue, Rogério Moreira está feliz com o empreendimento. O albergue foi inaugurado em Maio deste ano, e há uns dois meses não tinham nenhum hóspede. “Acho que abrimos numa temporada ruim, mas acredito que agora no final do ano vamos ter bastante gente procurando reservar um lugar aqui. A proximidade com a Lapa atrai muita gente.”, afirma o empresário.

Mas a diversão não é a única opção de quem opta pelo Centro da cidade para se hospedar. A peruana Fabíola Gonzáles e o varanda-do-solar-de-santa.jpgmarido Martín Gonzáles acabaram de se casar, e se hospedaram no Solar de Santa Guesthouse para passar a lua-de-mel. “Pegamos várias referências de amigos que já conheciam o Rio. Todos falaram maravilhas da Lapa, mas não era exatamente esse tipo de bagunça que a gente estava procurando. O Solar caiu do céu como uma opção para a gente.”, conta Martín apoiado por sua esposa. “Aqui é muito lindo e muito calmo. Tem muito verde em volta, isso é muito bom. A gente pode visitar a cidade, mas ficar tranqüilos aqui no final do dia é muito bom. É como se fosse outra cidade. Ontem à noite saímos e fomos ali na Lapa. Foi divertido, quero repetir hoje de novo. É bom estar se divertindo com um monte de gente, e ao mesmo tempo saber que quando voltarmos para o hotel vamos poder relaxar de novo”, complementa ela.

Natacha Barcellos, responsável pela recepção e eventos do Solar de Santa diz que atualmente muitos casais estão fazendo reservas ali pelo mesmo motivo de Fabíola e Martín. “É uma proposta diferente de hospedagem, aliando o conforto e exclusividade com locais turísticos muito procurados por esse público mais jovem. A tranqüilidade de Santa Tereza foge dos padrões de badalação da Zona Sul. Acho que isso atrai os hóspedes”, afirma ela.

quintal-da-casa-aurea.jpgO empresário Cornelius Rohr inaugurou o albergue Casa Áurea há cerca de cinco anosm quando ainda não haviam opções de hospedagem em Santa Tereza. “Com tudo que a gente fica sabendo que rola de bom na Lapa, eu queria muito ficar em um lugar por perto. Achamos a Casa Áurea, e não pensamos duas vezes. O albergue é ótimo, barato, e é tão perto da Lapa que dá pra ir andando. Estamos muito animados!”, conta a mineira Camilla Nogueira, de 21 anos que está fazendo um mochilão pelo Brasil com um grupo de amigos. Com a revitalização da Lapa, os empresários do ramo de hotelaria, como Cornelius e Rogério estão apostando nas redondezas do local. Cerca de 10 albergues e pequenos hotéis foram inaugurados na Lapa e arredores nos últimos 3 anos, e nada indica que a tendência vai parar tão cedo. E quem ganha com isso não são apenas os turistas, mas também toda a cidade.

Por Carolina Ruiz

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Circo de Cultura

novembro 29, 2007

Acostumados em olharmos o Circo Voador apenas como um local de exposições e shows culturais o local tem mais a oferecer. Marcado por mega eventos e palco de momentos inesquecíveis da música brasileira, o Circo Voador tem mais a dar pela cultura. Mais do que pano de fundo para shows a instituição atua em vários projetos sociais. Oferece cursos de som, iluminação, vídeo e computação e é palco também para oficinas de circo, capoeira, teatro, dança e música. Incluso no projeto do Ministério da Cultura que visa designar subsídio às manifestações culturais através de aparelhos e método, chamado Ponto de Cultura, um seguimento do Cultura Viva, a instituição oferece cursos e oficinas a comunidade carente.

O Circo Voador é um dos 56 Pontos de Cultura espalhados pelo Estado e desenvolve projetos como a Creche do Circo Voador é um dos seus projetos oferecidos pela casa. Ela atende 80 crianças da Lapa e das redondezas oferecendo projetos extra-curriculares, refeição e cuidados de saúde. O espaço atende as criança até 5 anos em tempo integral tem seu novo prédio fica atrás do Circo com a Avenida Mém de Sá. Além do projeto Estúdio de Áudio-Visual do Circo, onde é possível aprender a editar, mexer em programas avançados como o Final Cut e Motion, além de aprender a produzir, e criar roteiros.

Outro projeto da casa é o MEC, Movimento de Educação e Cultura, que fica na Rua Joaquim Silva 114. O projeto foi erguido a partir de recursos da própria instituição e possui cursos gratuitos de Inglês, Espanhol, Estúdio Livre, Turismo Cultura e Informática. Além desses projetos, que são os mais recentes, o Circo Voador oferece outros cursos para todas as idades. Informações podem ser obtidas no site do Circo Voador.

Por Milena Veloso

Mais informações:
MEC – Movimento de Educação e Cultura
Rua Joaquim Silva, 114 – Lapa
Tel.: (21) 2222-2976
mec@circovoador.com.br

Entre em contato e garanta a sua vaga:
pontodecultura@circovoador.com.br
Tel.: (21) 2533-0354 r. 250

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Escadaria da Lapa

novembro 29, 2007

A escadaria que liga a Lapa ao convento de Santa Teresa é um dos atrativos que a localidade pode oferecer . Visitada por estrangeiros e turistas de outros estados, a obra prima decorada pelo artista plástico chileno, Selarón, possui 215 degraus minimamente decorados com azulejos vindos de vários países. Outros adereços que são notáveis na decoração da escadaria são objetos de porcelana como pratos, pires, xícaras e até mesmo banheiras. O artista compra parte do material e parte recebe por meio de doações em especial de visitantes que se apaixonam pela sua arte. Ao observar a obra é possível perceber as cores verde e amarelo se destacando no meio do todo – essa foi uma forma que Selarón achou para homenagear o país que adotou como lar. A sua pintura se caracteriza pelo uso expressivo de tons em marrom, preto e vermelho com traços bem definidos. Mescla cultura ocidental e oriental em uma mesma escadaria.

Na maioria dos azulejos, quadros e paredes ao redor da escadaria decorados pelo artista plástico é possível notar a presença de uma personagem misteriosa. Trata-se da figura de uma mulata grávida. O significado dessa musa nunca foi revelado e o porquê da sua constante aparição Selarón guarda como um segredo.O artista chileno também tem outras características peculiares, carrega consigo constantemente uma agenda, uma diário, onde anota todas as suas conversas, seus dias, observações e principalmente seus projetos. Alegre e cativante, é quase impossível separar o artista da sua criação. Falar da escadaria e visitá-la sem a presença de Selarón é como ficar sem visitar uma parte do local.

Como todo gênio, Selarón possui dois ajudantes, quase que apredizes, Cezar, um argentino de coração brasileiro, e Roberto, um macaense um tanto quanto carioca. Os dois ajudantes são os responsáveis por colocar e cortar os azulejos de forma que mantenham a simetria e harmonia da obra. Pela necessidade de uma constante reforma para a preservação da do local, Selarón capacita seus ajudantes para quase todas as tarefas que no início foram executas apenas por ele.

Cezar foi o elaborador da pirâmide de banheiras e do jardim também decorado com elas. Roberto ainda não possui nenhuma arte sua dentro da escadaria, mas se encarrega pela venda dos quadro pintados em porcelana que Selarón vende. Os dois aprendizes possuem a simpatia e o jeito cativante de seu mestre e são bons esclarecedores para toda e qualquer dúvida que se tenha do local e da obra.

A escadaria é um monumento imperdível para quem pretende visitar e principalmente para quem mora no Rio de Janeiro. Não precisa de hora para marcar e têm livre acesso para quem queira apreciar um monumento artístico.

Por Milena Veloso

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Uma voz nordestina na Lapa

novembro 22, 2007

Raimundo Nonato é morador de uma pensão que fica ao longo dos 215 degraus da escadaria da Lapa decorada pelo famoso artista plástico Selarón. Vindo do Ceará, ele adotou o Rio como sua cidade e, após horas de bate-papo, revelou um pouco da sua história em uma conversa descontraída. “O Rio é muito bom e aqui na escadaria é muito calmo”, diz ele nessa entrevista.

tiozinho.jpgQuando e como foi a decisão de sair do sertão do Nordeste e vir morar no Rio de Janeiro?
Eu nasci no Ceará no Sertão. Onde eu morava não tinha nada apenas a casa do meu pai e um pouco distante a da família da minha mãe. Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos. Meu pai casou com a minha tia quando eu tinha uns doze anos. Ela cuidou de mim e dos meus seis irmãos. Foi nessa época que eu conheci a minha ex-esposa. Casei com 22 anos e foi a primeira vez que eu vim para o Rio de Janeiro. Me mudei sozinho pra cá e fiquei um ano e meio. Voltei para o Ceará e fiquei até o nascimento do meu primeiro filho. Voltei para o Rio em seguida sozinho e só depois do nascimento da minha filha que eu consegui trazer todos eles para morarem na Rocinha em um barraquinho de um cômodo, mas era tudo direitinho que eu consegui comprar.

Por que você resolveu sair do Ceará e tentar a vida no Rio?
Lá no Sertão a vida é muito difícil. Nós éramos sete filhos e passamos muita dificuldade lá. Não dá pra gente viver pra sempre no sertão. Eu era o mais desgarrado de meu pai e queria algo diferente para os meus filhos. Lá eles iriam ter as mesmas dificuldades que eu passei.

Há quanto tempo você está fixo no Rio e quando você mudou pra escadaria aqui na Lapa?
Eu estou com 58 anos e moro aqui há 30 anos. Eu criei meus filhos na Rocinha. Mas agora estão todos grandes. Ganhei dois netos, um menino da minha filha e uma menina do meu filho. Quando meus filhos se casaram, cada um veio morar em uma casa aqui na escadaria e, como eu tinha me separado, mudei pra cá. Larguei tudo, muito desgosto, e vim morar com meu filho. Logo depois vim morar sozinho aqui na pensão do lado da casa do Selarón.

O senhor hoje trabalha em que? E quais foram os empregos do senhor desde que veio morar aqui no Rio?
Eu já fiz de tudo. Fui ajudante de pedreiro, servente, porteiro, pintor de parede e hoje trabalho numa firma de vigilância. Já trabalho nisso tem uns sete anos. Eu sou vigilante desse condomínio fechado em Santa Teresa tem uns três anos. Não dá pra gente ficar parado não. Trabalho é bom pro homem. Já passei muita necessidade, então agora encaro qualquer bico.

escadaria.jpgO senhor tem planos de se mudar da escadaria? Algum plano de morar em outro lugar aqui no Rio ou voltar pro Ceará?
Eu moro aqui na escadaria tem uns quatro anos, desde quando separei da minha mulher. Fui casado 32 anos tentei voltar, mas ela que não me quis. Muito desgosto que a gente passa. Agora, aqui, eu estou perto dos meus netos e não sei nada dela. Eu arranjei uma namorada aqui, mas não apresentei aos meus filhos não. Separo filho de namorada. Pretendo ficar aqui. Agora volta pro Ceará só se for para passear em Fortaleza. O Rio é muito bom e aqui na escadaria é muito calmo.

Por Milena Veloso / Colaboração Carolina Ruiz

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Um brasileiro de coração

novembro 8, 2007

É muito difícil alguém visitar o Rio e não se apaixonar. Quase todos possuem uma história de amor com o Rio. Esse é o caso de César Gomes, um dos 36,9% de turistas que visitaram a Cidade Maravilhosa segundo dados do Instituto Pereira Passos. Mas a sua história não é apenas mais uma.

César nasceu em Buenos Aires há 26 anos. Há pouco mais de dois anos, ele e alguns amigos vieram visitar o Brasil pela primeira vez. Desembarcaram direto no Rio de Janeiro para curtir algumas semanas de férias. Depois do tempo previsto seus amigos voltaram para a Argentina, mas ele não. César fez amigos brasileiros e cariocas e continuou viajando pelo Rio, conhecendo outras cidades além da capital.

Foi em uma dessas viagens que o argentino decidiu que ficaria de vez no Brasil. Em uma de suas aventuras foi acampar na cidade serrana de Sana e conheceu Cecília, uma bióloga carioca, por quem logo se apaixonou. Os dois voltaram para o Rio juntos, começaram a namorar, e meses depois foram morar juntos no bairro de Santa Teresa. Logo depois o casal resolveu oficializar a sua relação e, na mesma época, César enviou sua Carta de Renúncia ao governo Argentino. “Meu coração virou brasileiro no momento em que pisei nessa terra. Não quero sair daqui.”, diz ele.

Um ano depois de chegar no Rio, o argentino ganhou o que ele diz ser o maior motivo para “fincar raízes no Brasil para sempre”, sua filha Bianca. Quando a menina tinha cerca de oito meses, César conheceu Jorge Selarón – o artista plástico que há 17 anos trabalha na famosa Escadaria da Lapa – e logo começou a trabalhar para ele. Três meses atrás, quando Bianca completou um ano de idade, Cecília teve que se mudar por causa de seu trabalho e foi morar com a filha em Casimiro de Abreu. Como havia se engajado no projeto de Selarón, César ficou em Santa Teresa vivendo temporariamente longe da filha e da esposa que visita quando possível.

Há sete meses ele trabalha para o artista, e entre outras coisas é responsável pela finalização da “pirâmide” da Escadaria – a qual mostra com orgulho a quem visita – e pelas vendas das pinturas de Selarón. Atualmente César afirma que – mesmo fazendo parte dos 11,8% de Argentinos que moram e visitam o Rio de Janeiro todos os anos – se sente totalmente brasileiro. “Para virar brasileiro mesmo, só falta perder o sotaque carregado”, brinca ele. Mas com tantos outros latino-americanos morando nas redondezas de sua casa e trabalho, isso passa a ser apenas um detalhe quase imperceptível.

Por Carolina Ruiz /Colaboração de Milena Veloso

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De armazém à glória

outubro 25, 2007

Em 1896, quase 90 anos após as primeiras ocupações da Lapa, no principal Largo do local nasce uma de suas principais construções. Um grande prédio é erguido para ser o armazém Romão, de produtos alimentícios. Esse prédio viria a testemunhar as épocas de glória, decadência e restauração da Lapa.

grande-hotel-fachada.jpgO armazém não deu certo e no mesmo ano o prédio se tornou o Grande Hotel da Lapa. Funcionou até o final da década de 1940, tendo sempre entre seus hóspedes importantes fazendeiros e políticos da República Velha. Em 1948, o prédio foi reformado e se transformou em um dos principais cinemas da cidade, o Cine Colonial. Décadas mais tarde, em 1965, o prédio passa por mais uma reforma, dessa vez a última. A fachada se manteve muito parecida durante todas as reformas, desde o Grande Hotel, porém foi no interior desse prédio que as grandes mudanças aconteceram. Os anos se passaram e o prédio continuou sofrendo transformações. De armazém a hotel, de hotel a cinema, e finalmente, de cinema a uma das principais casas de música da cidade do Rio.

Visando criar um espaço para música erudita no Rio, o prédio passou por uma nova mudança. Sob a gestão do governador Carlos Lacerda, e aos olhos do maestro Henrique Morelenbaum, o prédio foi reformado e, exatamente no dia 1º de Dezembro de 1965, batizado de Sala Cecília Meireles, tem sua grande noite de estréia. Foi o próprio governador quem decidiu o nome que o prédio iria ganhar. Dizia que Cecília Meireles era uma “autora de poemas que nasceram para serem cantados” e, assim, o prédio se tornou uma homenagem à poetisa. No concerto inaugural apresentaram-se nomes como Maria Fernanda (filha de Cecília Meireles) declamando poemas ao lado de Paulo Padilha, Mario Tavares regendo a Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e os solistas Maria Riva Mar e Nelson Freire.sala-cecilia-meireles-de-lado.jpg

A partir daí, nomes do cenário da música erudita como Jacques Klein, Turíbio Santos, e Arthur Moreira Lima estiveram à frente da administração da sala de concertos. Em meados dos anos 1980, entrou para o projeto Corredor Cultural do IPHAN, órgão do Ministério da Cultura. Nos anos 1990, sob a gestão do governador Marcello Alencar, o prédio recebeu um novo tratamento acústico e dois anexos: um auditório chamado de Auditório Guiomar Novaes, e um espaço para coquetéis, o Espaço Ayres de Andrade.

João Guilherme Ripper foi nomeado diretor em 2004, e é quem ainda ocupa o cargo. Em 2005, a SCM completou 40 anos e contou a apresentação de Nelson Freire, Henrique Morelenbaum, entre outros nomes em uma programação comemorativa. Entre os presentes de aniversário, a SCM também ganhou a publicação do livro Sala Cecília Meireles, 40 anos de música, do jornalista Clóvis Marques, lançado em 2006. O livro conta a história de um prédio que, entre outras tantas coisas, tornou-se a única e mais prestigiada casa de concertos dedicada à música de câmara do Rio de Janeiro.

Por Carolina Ruiz

Fontes:
IPHAN – Ministério da Cultura
RioTur – Secretaria de Turismo do Estado do Rio de Janeiro
Funarj (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro) – Secretaria de Estado e Cultura
Centro do Rio
Centro da Cidade
Lá na Lapa
Hotsite dos Professores da FACHA

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Circo Voador, 25 anos de história

outubro 25, 2007

O Circo Voador, importante berço de bandas célebres e importante espaço cultural carioca, foi criado no início da década de 1980. As tendas foram montadas na Praia Arpoador, em janeiro de 1982, pelo produtor Perfeito Fortuna. A tenda foi instalada na praia com a intenção de durar apenas o verão daquele ano e servir de palco para artistas veteranos, como Chico Buarque e Caetano Veloso, e os então novatos Barão Vermelho, Blitz, dentre outros. Três meses depois, o Circo foi retirado da praia e mais tarde instalado na Lapa, seu local desde então. Nesse tempo surge a sua maior aliada, a rádio Fluminense FM, primeira rádio carioca totalmente voltada para o rock. A rádio foi a grande lançadora de nomes do rock como Lobão, Paralamas, Legião Urbana, Kid Abelha, Celso Blues Boy, Água Brava, Gang 90, e do primeiro disco do Barão Vermelho, além de dezenas de outras bandas.blitzarpoador.jpg

A parceria com a rádio foi tão bem sucedida que em outubro do mesmo ano lançaram o projeto “Rock Voador”, que levou para palco as bandas que tocavam na rádio. O evento lançou bandas como Kid Abelha, Celso Blues e Boys, Sangue da Cidade. Na Lapa, o Circo viveu anos de glória como palco de grandes eventos, cenário de movimentos e de marcantes momentos da história cultural do Brasil. Em 18 de novembro de 1996, o espaço teve seu alvará cassado e foi fechado pela Prefeitura do Rio de Janeiro durante a gestão de Luiz Paulo Conde. Anos de cultura jogados fora e parados com o fechamento de um dos maiores palcos da música brasileira.

Foi então no ano de 1999 que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou projeto de lei que instituía o Circo Voador como Área de Proteção do Ambiente Cultural dos Arcos da Lapa. A decretação do projeto foi o passo decisivo para a iniciação do plano de revitalização do Circo que contou, também, com a ajuda de movimentos sociais e estudantis, artistas e associação de moradores da localidade da Lapa.

Apenas em 22 de julho de 2004, o Circo Voador teve a sua reabertura coroada com um mega evento que contou com a participação de grandes nomes que fizeram história no local como Celso Blues Boys, Frejat, George Israel, Evandro Mesquita, Lobão, e novatos como a cantora Pitty e o rapper B Negão.

circoatual.jpgHoje, após 11 anos do seu fechamento, o Circo Voador reconquistou o seu público, a sua confiança e seu status de casa cultural, sendo um dos maiores palcos do Rio de Janeiro. Além de shows, a casa oferece cursos, é local de exposições e abriga projetos sociais em uma estrutura super moderna e inovadora.

Por Milena Veloso

Fontes:
Circo Voador

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E o tal malandro?

outubro 11, 2007

Hoje em dia pode ser muito difícil para alguns enxergarem aquela malandragem tão cantada em versos e prosas sobre o bairro mais tradicional da cidade. A Lapa é até hoje conhecida por sua boemia e sua malandragem, mas será que essa malandragem ainda existe como antigamente? Em 1978 Chico Buarque escreveu a música “Homenagem ao Malandro“, e nela canta que a “tal malandragem” não existe mais. Wilson Batista e Noel Rosa são outros nomes que também já fizeram sambas e músicas sobre essa tão aclamada malandragem.

Para muitos a malandragem sempre existiu, e ainda existe. É aparentemente impossível para vários cariocas verem a Lapa sem a malandragem que Chico há anos cantou. São, aparentemente, coisas indistintas. Mas muitos jovens freqüentadores da Lapa parecem concordar com Chico Buarque: “aquela” malandragem já não existe mais há tempos. Antônio Pontes, 21 anos, estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá, afirma que a idéia de malandragem ainda existe. “A malandragem existe sim, bem deturpada do que era a malandragem dos anos 40 e 50. Hoje em dia essa malandragem se confunde com vagabundagem, mas existir sempre vai existir… é uma constante”, explica o futuro advogado.

Em 1934, em sua música “Rapaz Folgado”, Noel Rosa já dizia que “malandro é palavra derrotista”, usando o mesmo argumento de confusão entre malandro e vagabundo que Antônio utilizou, 73 anos depois. Mas a pergunta persiste, ainda existe a tal malandragem? “Sim! A malandragem existe sim, mas adaptada aos dias atuais. Antes, aquela malandragem era algo típico da Lapa. Hoje em dia não há um traço típico, mas sim vários traços compostos pelos diversos estilos de pessoas que freqüentam a Lapa”, afirma Rafael Xavier, 22 anos, estudante de Direito da FGV.

Assim como Antônio e Rafael, Gian Ciminelli, de 24 anos, estudante da UERJ afirma: “Eu acredito que a malandragem da Lapa de hoje não é mais aquela malandragem de navalha no bolso, correndo da polícia etc. Acredito que a malandragem da Lapa de hoje se configura mais como uma certa ‘aura’ que paira sobre aquele lugar. É tipo uma postura das pessoas de ‘estar-na-rua’, tranqüilo, curtindo ao mesmo tempo em que a cidade pega fogo, cheia de violência e injustiças.”

A opinião permanece igual, tanto entre jovens como entre velhos conhecidos da Lapa. “Hoje, malandragem já é outra coisa, bem diferente do que era. O ‘tal’ malandro já não anda mais por aqui, mas sua alma com certeza continua na Lapa. Quem passa por aqui, logo sente que aquela malandragem existe em cada tijolo dos mais antigos sobrados desse lugar. “, brinca Henrique Oliveira, de 72 anos, aposentado e freqüentador do Clube dos Democráticos. Seu Henrique sintetizou o que muitos pensam sobre o tal do malandro: A malandragem ainda existe como uma idéia, mas como já diria Chico “o malandro pra valer, não espalha, aposentou a navalha tem mulher e filho e tralha e tal”.

por Carolina Ruiz